quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Parto: depoimentos


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 Normal? Cesárea? Quatro mães que já enfrentaram o momento de dar à luz dividem, com você, suas dúvidas e emoções, facilitando a sua escolha e aplacando a ansiedade
Planejei cesárea e foi normal
Quando engravidei da minha primeira filha, eu queria parto normal, mas, com zero de dilatação, me rendi à cesariana. Um ano e meio depois, estava grávida novamente. Todos os ginecologistas que visitei foram categóricos: com uma cesárea, o parto normal seria praticamente impossível. E me convenci de que meu destino era outra cirurgia. Na 37a semana, comecei a sentir uma cólica incômoda. Liguei para a médica, que mandou tomar um antiespasmódico. Estávamos perto do Natal e convoquei meu marido para irmos ao shopping. Na volta, notei que sangrava. Fomos para o hospital e lá a enfermeira constatou 2 centímetros de dilatação. O sangramento era consequência de uma bela encaixada do bebê. Voltei para casa, terminei a mala da maternidade e fui deitar. Aí, as contrações vieram para valer até que não aguentei. Sabe a cena do marido dirigindo como louco, furando sinal vermelho, com a mulher ofegante do lado? Aconteceu comigo. Foram cinco horas de trabalho de parto com todas as enfermeiras tentando me convencer a pedir pela cesárea. Resisti! Apesar da insegurança, encontrei forças para empurrar o bebê, e o “impossível” aconteceu diante dos meus olhos: minha filha nasceu de parto normal e ainda briguei para amamentá-la assim que nasceu. Hoje, sei que devia ter pesquisado mais antes de aceitar que a cesárea seria inevitável. Também me arrependo do hospital escolhido: todos ali pareciam decididos a me fazer desistir do que estava acontecendo de forma saudável e natural.
Priscilla Perlatti, 33 anos, designer e autora do blog Mãe de Duas, mãe de Stella, 5 anos, e Lia, 3 anos, de São Paulo

Planejei normal e foi cesárea
Nunca fui do tipo radical que condena cesariana. Mas, assim que confirmei a gravidez, senti que seria melhor ter um parto normal. Por mais que os médicos gostem de fantasiar a cesariana como uma coisa simples, não entrava na minha cabeça que corte, sangramento, cicatriz e anestesia fossem algo tão inofensivo. Assim, saí à caça de um obstetra que comprasse minha causa. Digo “saí à caça” porque descobri que, apesar das campanhas de incentivo ao parto normal, poucos médicos estão dispostos a encarar a maratona do trabalho de parto até o nascimento do bebê. Visitei vários até que encontrei um que aceitou minha ideia de parto normal. Mas também ele logo começou uma campanha pró-cesárea. Disse que o bebê era grande demais e que minha dilatação não seria suficiente para o parto normal. Falou que teria de cortar embaixo para abrir passagem e que a criança muitas vezes sofre nesse processo. Como assim? No quinto mês já dava para saber da minha dilatação ruim? Voltei para casa arrasada, em parafuso com tantas dúvidas. Meu marido disse que ficaria do meu lado qualquer que fosse a minha decisão. Resolvi encarar a cesariana, se fosse pelo bem da Yasmin. Quando a bolsa estourou, fui para o hospital, ainda com esperança de um parto normal. Quando cheguei, detectaram falta de dilatação e perguntaram se seria cesárea. Insegura, respondi que sim. Em pouco tempo estava na sala de cirurgia tremendo de medo. Só mais tarde, no quarto, com minha filha nos braços, as incertezas foram pelo ralo. Mas ficou a lição: na próxima vez, vou querer parto normal e não terei sangue de barata. Vou questionar o obstetra até o fim!
Talitah Sampaio Liten, 28 anos, estilista e empresária, mãe de Yasmin, 1 ano e 1 mês, de São Paulo

Quis e fiz cesárea
Na primeira gravidez, embora o medo da dor fosse grande, estava inclinada a tentar o parto normal. Próxima da 40a semana, porém, eu não tinha dilatação e precisei de cesárea. Tudo correu tão tranquilamente, que, ao engravidar de novo, nem cogitei outra opção. A obstetra apoiou minha escolha, mas me deu liberdade para mudar de ideia. Algumas semanas antes da data prevista para o parto, tive rompimento de bolsa e comecei a perder líquido. Avisei a médica e fui para o hospital. Lá fizeram um ultrassom e me mandaram para casa. Voltei, mas me sentia agitada. Eu havia passado a gravidez inteira me preparando psicologicamente para outra cesárea e não queria parto normal por nada deste mundo. Liguei de novo para a médica, e a secretária disse que ela estava a caminho do hospital para me examinar. Tinham me dispensado sem esperá-la. Revoltada, arrumei minhas coisas e voltei à maternidade. Cheguei lá já com contrações e fui para a sala de pré-parto para monitorarem o coração do Miguel. Meu marido notou quando houve uma queda brusca nos batimentos cardíacos do meu pequeno e avisou a enfermeira, que ligou pedindo para a médica se apressar, pois havia risco de sofrimento fetal. Assim que a obstetra chegou, outra decepção: a sala e os instrumentos cirúrgicos ainda não haviam sido preparados. No fim, fiz uma cesárea de emergência. Aí veio a parte chata: ficar na sala de recuperação, sozinha, pensando o tempo todo no meu baby. Nessa hora fiquei imaginando que, se tivesse feito parto normal, poderia já estar curtindo meu filhote. Mas esse grilo sumiu quando, mais tarde, segurei nos braços aquela criaturinha tão amada.
Simone Carvalho, 36 anos, administradora de empresas, mãe de Pietro, 6 anos, e Miguel, 2 anos, de São Paulo

Quis e fiz normal Eu e meu marido
somos adeptos da vida natural, sem intervenções que atrapalhem o ciclo das coisas. Portanto, não tinha dúvida: queria um parto natural, humanizado e em casa. Comecei o pré-natal com uma médica que, teoricamente, era a favor do parto natural. Mas, como o homeopata já havia me alertado que muitos profissionais se mostram entusiastas do parto natural e, no fim, convencem a gestante a fazer cesariana, decidi questioná-la. Ela não sabia nem o que era doula e aí troquei de médico. Com a ajuda do novo obstetra – esse sim com experiência em partos naturais –, encontramos uma doula maravilhosa. Eu e meu marido tínhamos definido que seria um PDS, ou seja, um parto domiciliar secreto, onde apenas o casal, a doula e o médico estão presentes. E, para manter o segredo, precisávamos confiar nos profissionais que nos amparavam. Com 38 semanas, senti cólicas fortes e liguei para a doula. Era o início do trabalho de parto. Quando ela chegou, eu estava com quase 5 centímetros de dilatação. Em uma hora, a dilatação pulou para 8 centímetros, e o obstetra também já estava lá. A dor era grande e, em dado momento, me pus de quatro e não saí mais dessa posição. Foi a maneira menos dolorosa que encontrei. Quando Helena veio ao mundo, fiquei maravilhada! Peguei-a no colo e amamentei. Saí da experiência fortalecida. Não mudaria nada e aconselho as mães que desejam o parto natural a lutar por ele. Ainda há muito preconceito por parte dos médicos, mas ter o bebê de forma saudável, sem cortes e sustos, não tem preço! Tanto que minha segunda filha, a Aurora, nasceu da mesmíssima maneira.
Ligia de Sica, 30 anos, empresária, mãe de Helena, 3 anos, e Aurora, 1 ano, de São Paulo

Palavra de médico
Os defensores do parto vaginal – normal (que pode incluir anestesia e soro) ou natural (sem nenhuma intervenção) – têm como argumentos menor mortalidade e recuperação mais rápida da mãe. Mas o medo da dor, o desejo de conforto e a conveniência dos médicos impulsionam o placar das cesarianas, transformando o Brasil em recordista mundial de partos cirúrgicos. A Organização Mundial da Saúde recomenda que apenas 15% dos partos sejam por cesárea. Segundo o Ministério da Saúde, porém, temos 26% de cesarianas da rede pública e 80% nos partos por convênios. Às vezes, a cirurgia é inevitável. “É o caso da gestação com diabetes mal controlada ou em que o bebê se encontra sentado ou atravessado”, diz o obstetra Marcio M. Kondo, professor da Universidade de São Paulo. A essa lista, somam-se ainda casos de bebês acima de 4 quilos, doença hipertensiva da gravidez, contaminação por HIV, problemas placentários e sofrimento fetal. Quem já passou por duas cesáreas anteriores também não tem opção. Nas demais circunstâncias, indica-se o parto vaginal. “Mas a palavra final é sempre da mãe”, informa Eduardo Cordioli, coordenador de obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

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